Foi publicado no principal jornal de Santos e de São Carlos, um texto do Secretário de Cultura de Santos sobre os artistas de rua e a proibições e restrições que estamos sofrendo. Enviado pelo amigo Caio Martinez, da Trupe Olho da Rua.
Os artistas de rua merecem respeito
Por Carlos Pinto
“Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.” (Mário Quintana)
A imprensa paulistana vem destacando nesta última semana, a perseguição que vem sendo movida pela Prefeitura de São Paulo, aos artistas de rua. Acima de ser um ato de censura, esta perseguição veta a liberdade de trabalho e expressão. Parece-nos que o senhor Gilberto Kassab, prefeito paulistano, gosta de criar polêmicas desnecessárias, o que levou um ambulante dia desses, a agredi-lo em plena via pública.
Nas grandes cidades e capitais do mundo, é notória a presença de músicos, artistas de circo, dançarinos e atores teatrais, levando sua arte diretamente ao povo. De Nova York a Lisboa, de Los Angeles a Buenos Aires, de Barcelona a Moscou, os artistas de rua promovem arte e cultura recebendo do povo, qualquer importância por esse trabalho. Um trabalho honesto que deveria receber das autoridades e do povo, o respeito que todo artista, por menos talentoso que seja, merece.
Assim não pensam algumas autoridades no Brasil, que tristemente nos fazem passar à história, como castradores da arte, da cultura e da liberdade de expressão. E não é apenas em São Paulo que tais fatos estão ocorrendo. Há relatos de fatos semelhantes no Maranhão, no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e outros Estados. Ao espantar os artistas das ruas de suas cidades, no mínimo estão contribuindo para que boa parcela deles desista de sua arte, e se encaminhe para o crime ou para uma vida de frustrações e decepções.
Joshua Bell, um dos mais talentosos violinistas da atualidade, acostumado aos concertos no Carnegie Hall, Metropolitan e outras grandes salas do mundo, também tem seu dia de musico de rua e realiza apresentações no metrô de Nova York, como também já se apresentou com a Orquestra de Heliópolis. Se em uma de suas vindas a São Paulo, resolver fazer uma surpresa aos pedestres da Av. Paulista corre o risco de ver o seu legitimo Stradivarius seqüestrado por um fiscal do senhor Kassab, e terminar o dia em uma cela de um distrito qualquer.
Grandes nomes do jazz norte-americano deixaram seu talento marcado nas ruas de New Orleans, e jamais sofreram qualquer perseguição por praticarem sua arte nas esquinas e calçadas de sua cidade. Hoje, quando o trabalho realizado pelos grupos de teatro de rua em todo o Brasil começa a exibir espetáculos de qualidade, realizando festivais estaduais e nacionais dessa modalidade, corre o risco de ver sua arte atropelada por um administrador insensível e inculto.
Seria trágico se não fosse comigo, pois ali no centro de São Paulo, e em outros locais da paulicéia, o tráfico e consumo de crack rola solto e nenhum fiscal da Prefeitura está preocupado com isso. Não seria a hora dos nossos administradores deixaram os artistas de rua em paz, e tratarem de se preocupar com problemas sociais, buscando as soluções que tais problemas exigem?